Activamos novo web cos diários de prisom d@s pres@s independentistas.

Em meses passados, os diários de prisom escritos pol@s independentistas Giana Gomes e Ugio Caamanho vinhérom sendo alojados em formato blogue, no antigo endereço http://com-os-pes-na-terra.blogspot.com/ .Problemas de tipo técnico provocárom a perda, nesse sítio da rede, de todo o material escrito datado a partir da Primavera do ano passado, conservando-se apenas os diários abrangentes do arco temporal que ia de Agosto 2005 a Fevereiro 2006. Agora recuperamos em compilaçom, no novo endereço-e anexado na ligaçom inferior (que aginha estará disponível no apartado “ligaçons” do nosso portal), todos os textos anteriores,aos quais iremos acrescentando aqueles que @s patriot@s pres@s nos enviarem dos seus destinos forçosos na Espanha. Acompanhamos esta notícia co último escrito que o Ugio Caamanho enviou para o exterior da sua estadia em isolamento no cárcere espanhol de Cáceres (antes de ser dispersado para Puerto de Santa María):um artigo de opiniom sobre “Os mitos e os movimentos”: “Leio Wu Ming, o autor colectivo que acolhe muitas intervençons políticas e literárias da esquerda extra-institucional, sobretodo na Itália, e a sua reivindicaçom dos mitos como vozes corais dos movimentos. Vem-se-me um feixe de reflexons à cabeça. Lembro-me entom das estupidezes que dizia Engels sobre o que ele chamava ‘povos sem história’, que eram os povos que nunca foram independentes e estavam condenados a desaparecer pola vaga de progresso que atravessava a Europa. Eram raciocínios tam simplórios que nom merecem nem retê-los na memória; a mim ficou-me gravada, no entanto, a expressom. Povos sem história. É claro que era infeliz porque sim tinham história, naquela altura todos os povos a tinham e os que ele nomea, mais que nenhum outro; desgraçada, isso sim. Mas, que povo poderia nom ter história? Se nos referirmos a um relato dos avatares colectivos no tempo, que comunidade humana deixa de elaborá-los nunca, e menos se os avatares som trágicos e frustrantes? E porém parece que o tempo vai caminho de validar a expressom, se bem que com um significado totalmente distinto ao esperado. Possivelmente o ámbito nacional seja excessivamente grande e difuso para nos apercebermos do processo, ou em todo o caso a menor escala fica mais nítido: avonda com olhar a transformaçom das cidades no último quartel de século, e mais especificamente a questom dos bairros. Nas nossas cidades, falar em bairros logo será um anacronismo, como declarar-se de tal ou qual paróquia na maioria dos casos. Existem ainda os bairros? Até no sentido físico há que duvidá-lo, desde que a desintegraçom dos espaços da vida chegou ao ponto de que nenhuma parte da cidade é autónoma para estabelecer e acolher umha quotidianeidade: o centro de trabalho está num canto da cidade, o lugar das compras noutro, o colégio mais longe, os mercados de ócio noutro, e o dormitório ainda fora da cidade, até quiçá fora do município. O Santiago que se está a construir carece totalmente de bairros, ainda que seja pródigo em blocos de prédios, áreas comerciais, e parques e jardins. A relaçom entre isto todo e o império do carro privado é tam directa que nom precisa explicaçom. Mas além do plano físico, a prova palmária e dessassossegante da extinçom de bairros constitui-a o feito de os novos serem ‘bairros sem história’. Nom porque sejam recentes: porque nom geram histórias. Nos bairros de verdade, como nas aldeias, acontecem cousas, e essas cousas som contadas umha e outra vez, repetidas e mitificadas em mil anedotas, conversas na taberna ou charlas de café, inculcando-se na memória das pessoas e transmitindo-se generacionalmente conformando a história do bairro, que inclui personagens (o ‘parvo da aldeia’, por exemplo: existirá essa figura, sei lá, em ‘Aldea Nova’?), e épicas, tragédias e comédias. Eu acordo-me, por exemplo, das histórias de incêndios (com anedotas engraçadíssimas) e suicídios na Avanha, ou de tantos outros lugares: quando quissérom impor um cura a umha paróquia e os vizinhos conseguírom botá-lo e trazer de novo o anterior, que fora castigado pola jerarquia; aquela vez que se armou terrível bronca no dia da festa por um assunto de dinheiro na comissom de festas, e desde entom que Fulano de tal nom pisa a taberna; a história do filho de tal, que se meteu na droga, se fez gatuno e agora está na legiom, e todos estamos de acordo em que foi o melhor que pudo fazer porque ao menos os pais estám tranquilos…enfim, cousas assim. Haverá algumha cousa equivalente, ponho por caso, num dos últimos bairros residenciais que se extendem pola cidade? Em poucas palavras: terá acontecido alô qualquer cousa nos últimos anos? Muito temo que nom. Nesses bairros dorme gente, mas nunca se passa nada. É dizer, sim passa, a gente vive a sua vida, atravessa as suas crises, as suas situaçons cómicas, até pode que emprenda as suas heroicidades, mas nom som matéria de relatos e por consequência perdem-se no desagramento da memória privada, em geral, aliás, em soidade ou no divám dum dos muitos ‘especialistas’. A substáncia disto parece-me familiar: nom se trata de que a gente perdesse a afeiçom aos relatos, senom que estes vivem no ámbito dumha comunidade e os novos bairros e urbanizaçons nom som comunidade. Som apenas umha soma de celdilhas com alarma e vigiláncia privada. Logo, tentar abordar o assunto atendendo à sua manifestaçom…digamos, literária, tem poucos visos de frutificar. Vaia idiotez seria promover as histórias e os mitos nas tranquilas residências campestres dos funcionários do Estado, nem na versom ‘nacionalista’ que tanto abunda. Se cumpre ser francos, ainda nom vejo muito bem as conclusons que se podem tirar. Mas si que há elementos que se deveram levar em conta. A necessidade de relatos deve ser um traço atávico das pessoas e nom se apagou nesta época, por muito que mudasse a maneira de a satisfazer. Dedicamos a isso umha porçom grande do dia, seja vendo filmes, sintonizando a rádio, lendo, consumindo notícias gerais ou de famosos, mesmo combinando com alguém para tomar-lhe algo (é dizer, para contarmo-nos cousas). Em geral, predomina na actualidade a funçom passiva e o exercício solitário, o homem espectador. Também proliferam ‘soluçons’ individualistas para se exprimir: blogues que exibem a intimidade, lercheio ou assistência a ‘especialistas’ que se enriquecem aproveitando-se do vazio das relaçons sociais. Temos dificuldade de falarmos com as pessoas próximas e pagamos-lhe a umha pessoa distante. Contodo, a necessidade de contar e narrar está aí. Nom cumpre criar nada, apenas orientar isto politicamente ou, como dizemos agora, ‘antipoliticamente’. O independentismo galego parece-se neste aspecto mais com umha urbanizaçom nas aforas que com um bairro ou umha aldeia. Nós poucas histórias contamos, como demonstra a incrível ignoráncia que todos padecemos a respeito de acontecimentos importantes, de épicas gloriosas, de fracassos atrozes e dos exemplos que mais merecem emulaçom na nossa história. Assistimos a palestras e mergulhamos nos textos da rede, mas pouco falamos e narramos. Um rapaz que hoje chegue ao movimento, se calhar, nom terá maneira de conhecer um relato da detençom de Curto e de como se tirou pola janela na esquadra para nom revelar informaçom baixo torturas; nem tam sequera ouvirá falar das agressons policiais das gaiteiradas de Fraga, da peleja das video-cámaras, dos centos de debates idiotas que tivemos em centos de assembleias, ou de como surgírom os centros sociais. Contamos poucas histórias entre nós e damos pouca ocasiom aos velhos de no-las contarem. Há centos de experiências mais valiosas que muitos manuais, aí mesmo, aguardando ser escuitadas e processadas. Como vivemos umha sociedade de pressa e desmemória, um ex-militante dos 80 já nos parece ‘um velho’, e um activista dos 60 já nem existe para nós. Imos do trabalho ao web e do web à reuniom, e da reuniom à troula nocturna, cheia de ruído, droga e charla oca, e carente sempre de conversa. Tragamos informaçom como possessos, e ainda assi quase nem escuitamos. Corremos risco de ser, poluídos por estes hábitos sociais, um ‘movimento sem história’. Teríamos que pelejar mui seriamente contra esta deriva ao movimento como abstracçom política e ideológica, e à formaçom como ‘aula magistral’ ministrada polos liderinhos de turno. Nom se trata de procurar soluçons do tipo de pôr-se a escrever relatos ou investigaçons sobre os nossos avatares –que tampouco estaria mal. O principal nom é isso, senom ter espaços e estimular hábitos que reclamem a actividade narrativa. Fomentar os autores colectivos; desmentir sem medo as categorias dos especialistas vários, como esses que se intitulam ‘poetas’ ou ‘intelectuais’ e parece que tenhem mais categoria para falar, oscurecendo todo o resto. E favorecer algo tam singelo como a tertúlia: os relatos em que todos contam porque, dumha maneira ou doutra, todos participárom. Os de Wu Ming dizem que a sua revoluçom ‘nom tem rosto’, porque o rosto é o de toda a gente. Assi devemos de fazer com os nossos relatos. Menos conferências, e mais conversas nos roteiros, à noite e à luz da fogueira, onde as palavras soam de outro jeito; mais ceias auto-organizadas, repartindo o trabalho e repassando o caminho que se leva andado; e mais encontros entre os velhos e os novos, tam infrequentes mas tam importantes para vermos como continuam enlaçando-se os elos da cadeia, e para comprovarmos como muitos retos do presente já os vivêrom outros no passado. Se pretendemos militar doutra maneira teremos que começar polo mais singelo: saber contar e escuitar colectivamente nos nossos pequenos espaços públicos, recriarmos os nossos mitos e transmitir-lhos a quem se iniciam na causa galega.” Podem-se consultar os blogues mais recentes do preso independentista acedendo directamente a https://www.ceivar.org/comospesnaterra/index.php?/categories/1-Ugio.