Comunicado do CPIG no Dia da Pátria 2023

Cadeia Humana 2023. Foto de GalizaContrainfo

Companheiros e companheiras:

Neste novo Dia da Pátria, recebei o saúdo fraterno dos/as prisioneiros/as da resistência galega a todas e todos aqueles em cujo coraçom e em cuja vontade a Galiza continua a resistir. Desde os cárceres de Espanha, desejamos que este ritual anual de encontro, celebraçom e luita da naçom galega, contribua para renovar o fermoso compromisso patriótico de quem cada 25 de julho acudides a Compostela, e sirva também para achegar força nova a esta conjura histórica das galegas e os galegos que nos negamos a deixar de sê-lo.

“Ser galega”; “ser galego”: achamos que hoje é um bom dia para perguntarmo-nos o que isto significa. A reivindicaçom da nossa identidade nacional tem de ser muito mais do que simples exaltaçom dumha filiaçom política ou dumha bandeira. Estas cousas nom fam muito sentido se nom forem expressom dumha realidade subjacente, dumha formaçom social distinta que durante séculos viviu dumha maneira diferente à dos seus vizinhos/as. Constituimo-nos em galegas e galegos graças a que o nosso povo estabeleceu umha forma própria e característica de viver, isto é, de nos relacionar com o meio e com cousas tam materiais e concretas como habitar o território, construir as nossas casas, produzir os nossos alimentos, vestir, administrar os nossos recursos… e também colaborar, festejar, formar famílias ou fazer política. Esta forma de vida foi codificando-se, adaptando-se e transitindo-se através das geraçons, cristalizando numha comunidade de cultura que,, contra o que amiúdo se pensa, tem um imenso valor prático: é o manual de instruçons que os nossos antepassados forom gravando na tradiçom, para nos ensinar como é possível viver neste território dumha maneira sustentável e humanamente aceitável. Nom idílica, nem desnecessitada de melhoras, mas sim muito mais humana, justa, digna e fermosa que o inferno capitalista e industrial que define o projeto espanhol. A pátria que nós reivindicamos significa um outro mundo possível relativamente recente, constituido por realidades que ainda conhecemos, como a propriedade em mao comum, os alimentos produzidos perto da casa, a colaboraçom vizinhal, a alegria coletiva das celebraçons populares, as vidas simples cheias de sentido, ou o respeito à Terra e ao seu mistério.

É importante adoptarmos esta perspectiva ante o horizonte de crise ecológica, económica e social que temos enfrente. Cumpre que sejamos conscientes de que toda reivindicaçom identitária que nom proponha -junto à construçom de verdadeiro poder popular – umha forma de vida própria é, simplesmente, umha reivindicaçom vazia, e que digamos em voz alta que a crise que enfrentamos é a do modo de vida egoísta, escravista e doentio que o experimento espanhol impujo na nossa terra durante o último século. O experimento capitalista, industrial e tecnoadito que gera a mesma identidade e o mesmo tipo de pessoas em toda parte, e que hoje ameaça com destruir nom só a diversidade e a saúde física e mental dos diferentes povos do mundo, mas também a própria mae Terra. A nossa bandeira deve identificar-se com a defesa dumha forma de vida radicalmente assentada na terra e na comunidade, diametralmente oposta a essa outra com a que Espanha nos envenena.

Umha parte dessa maneira distinta de viver é umha outra conceiçom da política. E também achamos importante falar disto hoje, após este episódio de histéria eleitoralista. Se a palavra “democracia” conserva ainda um sentido digno, tem de ser o de que as pessoas construamos e defendamos, por nós próprias, a nossa vida em comum, dotando-nos das instituiçons nacionais e soberanas que este objetivo requerir. Um significado que tem muito a ver com a nossa tradiçom comunitária, com a cooperaçom vizinhal, com a história do nosso associacionismo social e sindical, com as luitas coletivas em defesa do território que sustenta a nossa forma de vida… E muito pouco com a legitimaçom crescente do regime institucional espanhol. Após o espetáculo destes últimos meses, a ninguém lhe deve caber dúvida algumha de que a “democracia espanhola” nom é o governo do povo, e de que as eleiçons son basicamente um mercado túrbio no que legitimam o seu poder a classe social que controla os resortes económicos e os seus grandes partidos políticos, verdadeiras instituiçons privadas sobre as que se articula o Estado.

A sobrevivência da Galiza nom se joga nesse casino. A naçom nom resistirá como um mero conglomerado de indivíduos consumidores e votantes – independentemente de qual for o produto que estes elejam-, mas como umha socie3dade organizada desde a base para cuidar de si própria e defender todo o que é seu, incluída a sua indepedência política, além da legalidade e a pretendida normalidade democrática do Estado que nos submete. Por isso os resultados eleitorais, numha “democracia de mercado” como a que impera, som sempre relativos. Neste contexto de aniquilamento e desintegraçom social, o relevante é construirmos ferramentas populares que nos permitam existirmos e exercermos como naçom livre, reapropriando-nos das nossas vidas (dos nossos trabalhos, da nossa alimentaçom, da educaçom das nossas crianças, da recuperaçom e dignificaçom do nosso idioma, do nosso lazer, da gestom do nosso território… de todo isso que nom há tanto tempo era nosso, e que fomos cedendo a governos e empresas). Em última instáncia, a independência nom no-la dará ningumm parlamento, ma a nossa própria determinaçom coletiva de luitar e exercê-la na prática, de viver cada vez mais de costas às leis e aos poderes alheios.

Porque nom haverá legitimidade própria sem desobediência das leis espanholas, quanto mais teimemos em existir como povo, mais presente estará a repressom nas nossas vidas. Por isso, queremos finalizar fazendo um reconhecimento e um cahamento a fortalecer Ceivar, umha organizaçom com 20 anos de experiência e de dignidade às suas costas. Desejamos que a sua referência e o seu exemplo sejam ponto de encontro de novas e velhas geraçons de galegas e galegos insubmissos, e umha mostra sempre viva de como o arredismo sabe cuidar e defender a Galiza que luita.

Com o punho em alto e o coraçom ardendo, desde as nossas celas, hoje estamos com vós. Enviamos-vos nest dia o abraço irmandinho da nossa companheira e os vossos companheiros presos, que ao vosso carom, berram:

Viva o dia da Pátria!

Viva a Galiza que resiste!

Denantes Mortos/as que Escravos/as!

Coletivo de Presos/as Independentistas Galegos/as (CPIG)

Julho de 2023