“Enfrentamos o processo judicial com um sorriso, com orgulho e sem um ápice de vitimismo, o 8F estivemos onde tinhamos que estar”

A continuaçom reproduzimos a entrevista feita polo Organismo Popular Anti-repressivo CEIVAR com Joám Peres, militante de Causa Galiza e processado pola manifestaçom do 8 de Fevereiro de 2009 em Compostela onde várias ativistas pro-língua respostárom à associaçom galegófoba Galicia Bilingüe. O juízo terá lugar os vindeiros 20, 22 e 23 de Maio.

Existem multitude de imagens que recolhérom o que aconteceu aquele 8 de Fevereiro de 2009, qual foi a perceçom das que o vivistedes desde dentro?

jomO que se passou aquel 8 de Fevereiro de 2009 é incompreensível sem referirmo-nos ao contexto político e institucional da altura. Daquela, o bipartido PSOE-BNG geria a Junta da Galiza e estavam a piques de se celebrar as eleiçons ao parlamento da CAG. Por parte da extrema direita política e mediática lançara-se em 2009 umha intensa campanha contra as tímidas iniciativas de normalizaçom lingüística que adoptara o bipartido para, por umha parte, provocar a sua nom-aplicaçom e, por outra, introduzir na consciência do nosso Povo a ideia estrambótica de que o Espanhol era e é umha Língua discriminada na Galiza e amedrentar a reivindicaçom do Galego.

Neste contexto, o grupo ultra Galicia Bilingüe, desenhado desde Madrid para combater qualquer avanço face a hegemonia social do Galego, tratou de ocupar as ruas com umha manifestaçom galegófoba que foi contestada por centenas de pessoas. Acho que aquelo, à margem de como cada quem considerar os incidentes que ocorrêrom, foi um exercício saudável de dignidade coletiva e com perspetiva temporal suficiente vai ser visto assim a cada mais. Ninguém que conserve um certo orgulho ou certa saúde mental permitiria na sua própria casa umha exibiçom de ódio como aquela. A repressom de que fôrom objeto as pessoas que se chantárom foi brutal, como evidenciam documentos gráficos acessíveis para qualquer umha.

De onde provém o conflito com Galicia Bilingüe e quem achas que está detrás?

Galicia Bilingüe nom é nem o conflito nem é o problema. É apenas um pequeno coletivo, com forte apoio mediático, financeiro e institucional, segundo as necessidades de promocioná-lo que tenha o PP em cada conjuntura política concreta, cuja missom é combater qualquer passo face a hegemonia social do Galego e manter o estatus atual de subordinaçom e morte lenta. O conflito reside ai, é histórico e encontra-se numha fase muito avançada em favor do Espanhol.

Estes objetivos de extermínio do Galego de Galicia Bilingüe e, por extensom, do espanholismo em geral em todas as suas façons, que som os objetivos reais, velam-se com umha retórica formal de direitos e liberdades que tem detrás personagens e organizaçons com tam pouca solvência democrática como Sáenz de Ynestrillas, Falange Española, UPyD ou o próprio Partido Popular. Sob esta retórica de direitos individuais Galicia Bilingüe pretende ocultar a supressom histórica do direito coletivo do Povo Galego a viver com plenitude na que é a sua única língua, porque o bilingüismo harmónica nom é umha outra cousa que a modalidade moderna de extermínio do Galego.

Além dos aspeitos positivos que mencionas também se produjo repressom plasmada em agressons policiais e em identificaçons que fôrom as causantes de que a dia de hoje estejades processadas, com que argumentos identificárom-vos o 8F?

Os motivos das identificaçons naquel dia foram quando menos curiosos. Aspeito externo, o simple facto de falar em Galego ou o conhecimento policial prévio da militância independentista, convertiam-se em motivo de identificaçom, ou do consabido Por favor, circulen, abandonen la zona acompanhado de empurrons. Ante a negativa de muitos e muitas das ali presentes a marcharem, quando centenas de pessoas vindas de fóra se aprestavam para manifestar-se contra a nossa Língua, começárom os insultos, as cargas, as carreiras e as bolas de goma enquanto os democratas de Galicia Bilingüe, protegidos por antidisturbios, gritavam consignas tam sugerentes como Que los tiren al mar, como en Chile, Viva España ou, simplesmente, o amável ¡Fuera, gallegos de mierda! que sería próprio dum regime de Apartheid. Além das identificaçons in situ, houvo outras em dias posteriores, a partir de presuntas fotos e gravaçons.

Neste momento estades doze pessoas processadas sendo umha delas é o preso independentista Roberto Rodrigues Fialhega, Teto, que foi deslocado estes dias a Galiza para declarar como imputado no caso.

Se mal nom recordo, Teto foi detido dias depois dos acontecimentos. Atualmente, está preso e dispersado ilegamente a umha prisom madrilenha a máis de 600 quilómetros do seu domicílio, com o que isto supom de extorsom física, psicológica e económica semanal para os seus familiares, companheiras e amigos, que devem percorrer quase 1.500 quilómetros de ida e volta, jogando a vida cada fim-de-semana para visitá-lo durante os 45 minutos preceptivos. Desde aqui o meu saúdo afetuoso para quem tanto amor nos demonstrou e ensinou sempre por este País.

retaliados_lnguaApós ter constância das pessoas que estades processadas como vos organizastes?

Organizamos um coletivo temporal, prévio às datas das sucessivas tentativas de juízo, para gerir tanto a nossa defesa legal como o trabalho de denúncia do processo, procura de apoios sociais e políticos, presença em mobilizaçons, etc. Dado que este coletivo tem várias pessoas na emigraçom e está disperso em várias localidades do nosso país Internet e o Whatsapp fôrom imprescindíveis para planificar e coordenarmo-nos.

O juízo adiou-se em multitude de ocasions, a que se deveu?

Basicamente, devido a erros burocráticos dos julgados. Destacar a este respeito umha casualidade curiosa: a fixaçom de data para o nosso “macro-processo” coincide sempre com épocas eleitorais ou pré-eleitorais.

Agora que a data de julgamento está próxima, como enfrontades o processo que se inicia no 20 de Maio?

Como dizia no outro dia um companheiro na conferência de imprensa que demos para denunciar o processo, “com um sorriso e com orgulho”. Isso é verdade: sem um ápice de vitimismo. Estamos cientes de que a repressom que se nos aplica é-o por chantar-nos frente aos inimigos patológicos do Galego, umha repressom desmedida, com 45 anos de prisom para os doce, possíveis encarceramentos e sançons económicas impagáveis para gente que vive dum salário. Todo evidência umha vontade vingativa. No entanto, também  sabemos que esta repressom acompanha sempre qualquer luita e esta máxima hoje está à ordem do dia… Vamos ao julgado com a cabeça alta e sabendo que quem deveria estar sentados no banco dos acusados é a casta política que impulsiona um processo de extermínio planificado do idioma deste País. Simplesmente, nós, em 8F, estivemos onde tinhamos que estar.

Finalmente, o nosso idioma sigue despreçando-se. Que mensagem lhe enviarias às instituçons, associaçons, organismos públicos etc que querem minguar a presença real do Galego?

As instituiçons públicas atuais som geneticamente incapazes de aplicarem políticas de choque para salvarem a nossa Língua. E som-o porque o quadro estatutário impossibilita essas políticas do mesmo modo que impede umha política energética própria, de construçom naval, de ordenaçom do território, de emprego, de soberania alimentar, etc. Neste sentido, as instituiçons som como um cuitelo romo: nom servem para cortar. No entanto, essas mesmas instituiçons poderiam ser instrumentalizadas para aplicar políticas favoráveis para a hegemonia social do Galego se estivessem geridas por forças próprias com decisom política de exprimir o quadro e, incluso, forçá-lo pola via dos factos. O que acontece é que, hoje, som geridas por umha força espanhola de extrema direita que pretende abortar qualquer dinámica de construçom nacional nom-espanhola.

A responsabilidade, para além do que se puder fazer numha outra conjuntura institucional, está como sempre no telhado do próprio Povo Galego, das suas organizaçons, associaçons e coletivos, da nossa capacidade reivindicativa e de pressom como país e da nossa decisom de ser porque as instituiçons comportam-se como instituiçons coloniais. Laiar-se de que a extrema direita odeia o Galego e a Galiza parece um exercício estéril. As forças devem-se dirigir a ativar o movimento de normalizaçom e converter um conflito em que só umha parte ataca ativamente num conflito bilateral. Olhando para o retrovissor comprova-se que quando fumos “mais intransigentes” lingüísticamente falando é quando conseguimos mais avanços. Dessa realidade igual se pode tirar algumha conclusom produtiva.