“O importante é o conjunto e a unidade de todas, seguir trabalhando fóra e dentro com o que cada quem tenha ao alcanço das maos”

 ENTREVISTA A ROBERTO RODRIGUES FIALHEGA (TETO)

Durante o tetojuízo do 24 de Junho tanto a atuaçom da Fiscalia como a do juíz Guevara provocou o protesto da vossa defesa trás ter ignorado as provas e alegaçons. Qual foi a tua perceçom?

Sobre o juízo, o que dizer…. Pois democracia a la española. A verdade é que a mim já me tinham avisado como funcionava a Audiência Nacional quando se trata de sentenças políticas mas nom o aguardava tam exagerado, com tam pouco decoro… que por outra parte também mostra o jeito em que essa gentalha está acostumada a atuar.

Pessoalmente, a mim já me começou cheirar todo a “encerro” com a posta em cena da pecera (meter as serpes trás um cristal para que nom travem) e depois com o nosso interrogatório foi quando já percebim que a ningéem lhe interessava o que nós tinhamos que dizer. O guiom estava escrito!

Mas por-nos agora a enumerar e a explicar tenicamente um por um todos os atropelos que se produziram ao longo do juízo seria aborrecer a um santo… Entre os cortes nas intervençons dos advogados, a expulsom dos peritos, nom permitir densenvolver os interrogatórios às testemunhas, ignorar as nossas provas e alegaçons e fazer das hipóteses dos polícias e Fiscalia verdades absolutas… Vou resumir dizendo que foi umha negaçom total e continuada do nosso direito de defesa.

Ainda assim, acho que o juízo nom fôrom somentes esses quatro dias, se nom que já se começou preparar o terreo para umha sentença dura tempo antes em colaboraçom com a maquinária de propanganda do Estado (a imprensa “séria”), com todos os artigos e manipulaçons que fôrom saindo nos jornais espanhóis. Todo fazia suspeitar coisa má…

E todo isto enmarcado dentro da estratagema continuada do Estado para a criminalizaçom do independentismo… Nada é casualidade… Contodo, e para rematar com o tema do juízo, quero resaltar e ficar com o melhor desses quatro dias que foi atopar a sala ateigada de companheiras/os que deslocando-se desde a Galiza e parte do estrangeiro nos arroupárom com muita força, muito ánimo e energia positiva.

Qual achas que é o objetivo de manter-vos presos?

Sobre o objetivo de encadear independentistas junto com todo o “filme” que tenhem montado penso que responde à mesma estratégia de criminalizaçom do independentismo, procurando assim o seu isolamento e tentando também condicionar as posiçons dalgumhas outras posiçons políticas e movimentos sociais.

O motivo dumhas sentenças duras e exemplares também o vejo claro: mandar um aviso para navegantes… O que decida assumir a defesa da Terra já sabe o que lhe aguarda. Típico espanhol: jogar com o medo e a repressom.

Mas acho também que detrás deste salto tanto qualitativo como quantitativo na repressom, o Estado tenta agochar certo nervosismo e muitas dúvidas entre seguir negando ao Povo Galego (em todos os sentidos), ou reconhecer abertamente o conflito político-territorial no Estado… que já lhe tremem as perninhas e se descose coma umha pelota de trapo.

Acusa-se-vos de “terroristas”, no entanto, esta nom é a percepçom real da sociedade galega, o que pensas disto?

O de acusar-nos de terroristas dá para muitas brincadeiras. O problema é que nom é umha mofa. Eu conto-o e nom acreditam, hahaha.

Vamos ver: é mais umha ferramenta da que bota mao o Estado quando algo ou alguém começa amolar de mais, ou melhor dito, é o seu comodim para todo: para sem dar explicaçons repetir umha mentira mil vezes até faze-la verdade, para condicionar opinions e posicionamentos, para negar debates a nível político e social e para ter manga ancha a nível judicial e repressivo.

Contodo eu tenho que dizer que vindo donde vém e conhecendo o comportamento que normalmente emprega o Estado frente a qualquer pensamento dissidente (todo o que nom entre na sua Constituçom é terrorismo) quase mo podo tomar como um halago. Terroristas somos todas/os! O preocupante é que dixessem de nós que somos cidadáns exemplares. Ovelhinhas doces é o que eles querem.

Mas umha coisa é o que digam em Madrid, que sinceramente nom me preocupa, e outra bem diferente é o que perceba a sociedade galega, onde ninguém acredita que na Galiza existe terrorismo independentista. É mais, som precissamente os que submetem dia após dia a sociedade galega a cada mais, outra volta de porca… umha constante de precariedade, dor e sofrimento som o que sementa a raiva e exercem a violência em todas as suas modalidades, esses som os que nos chamam a nós terroristas. Assim está o mundo…

Como se tem manifestado a solidaridade perante a repressom?

Neste ponto, da minha posiçom, eu só podo ter palavras de agradecimento a todas as pessoas que desde muito diferentes “parróquias” mostrárom e mostram a sua solidariedade. Do movimento na rua vós saberedes melhor do que eu porque podedes palpá-lo de primeira mao mas chega-me que há grande resposta desde círculos bem amplos.

A respeito do que me chega cá dentro nom podo ter queixa porque muitos companheiros, ainda que seja a distância, muito me mimam e muito cuidam de mim… E isso que som muitos também os esforços que fai o Estado para alonjar-nos da nossa Terra e da nossa gente metendo quilómetros e quilómetros de por médio com todo o que isso supom, limitando-nos as visitas e comunicaçons a conta-pingas, etc. Um exemplo é este correio que demoro em responde-lo três meses!

Mas o certo é que nem com todas as armadilhas do mundo conseguem rachar os vencelhos da solidariedade: chegam-nos muitas mensagens de ánimo, força e tenrura desde o outra parte dos muros que, insisto, som de muito agradecer porque com eles todo se torna mais doado. Eu, a 670 quilómetros da minha morada e no médio da estepa nunca me sentim só. Muito obrigado, companheiros!

Como relacionarias as luitas de hoje em dia com a História da Galiza?

Bem, as luitas de hoje em dia entendo que som só umha etapa mais dentro do longo roteiro da luita e dignidade que desde sempre lhe tocou caminhar ao Povo galego (e muito carrete fica ainda). Logicamente a conseqüência da sua História e no contexto atual, também com os seus erros e os seus acertos, mas nunca se deixou de trabalhar apesar das grandes dificuldades.

Tampouco me vou por agora repassar todas as agressons em todos os sentidos que ao longo da História sofriu a nossa Pátria porque aborreceria a outro santo (e já vam dous) mas os galegos sempre demos boa resposta às agressons e sempre em desvantagem, defendendo a nossa Terra, o nosso Povo, a nossa língua, a nossa identidade… Os episódios som incontáveis.

Temos um passado do que sentir-nos orgulhosos e que só se entende tras um contínuo que agora chegou ao nosso tempo quando ainda se nos segue negando como Povo e quando ainda perduram as agressons e algumhas mais engadidas. O futuro ainda está por escrever mas eu só digo que nom vai ser a nossa geraçom a que dé as costas e de deixe assovalhar.

Que comentário che merece que com o auto de “banda armada” qualquer pessoa ou organizaçom solidária poda passar a ser acusada de colaboraçom ou enaltecimento?

O de banda armada para “todo deus” é outro exemplo mais do Estado de Derecho a la española. Procuram ter um cheque em branco de repressom para poder arremeter sem justificar nada contra qualquer dissidência na Galiza.

Tentam isolar-nos a base de repressom e medo do que eles chamam “entorno”, procuram espantar a solidariedade tirando da sua ementa democrática de leis à carta. Mas olho também com estas coisas, porque os que se pensam “fóra do entorno” porque normalmente apresentam estas normas desde Madrid para controlar aos “terroristas-antisistema-radicais” e depois a empregam contra qualquera que questione o seu jogo.

Durante as visitas e nas cartas sempre transmitides a vossa inteireça e firmeza, qual é o vosso papel mentres estades presos?

Eu nom vejo a prisom como princípio nem como final de nada, singelamente é mais umha etapa intermédia como consequência dum compromisso que nos tocou viver mas onde a militância continua. Logicamente a nível pessoal as circunstâncias e a minha rotina mudárom um bocado e polo tanto também o jeito de luitar, agora dentro dos muros, mas nós seguimos a ser os mesmos, nem melhores nem piores do que antes e as nossas opinions nom valem mais nem menos que quando militavamos nas rua.

Sem mais, hoje toca-nos estar cá e amanhá nom se sabe a quem lhe tocará. O importante é o conjunto e a unidade de todas, seguir trabalhando fóra e dentro com o que cada quem tenha ao alcanço das maos. Bem sei que eu agora estou ranhando o bandulho em Estremera-Dor –ri-, mas companheiros, cá me tedes para o que humildemente poda achegar…

E a nível de Movimento em geral, é certo que o facto de que o independentismo volte ter presos nas cadeias espanholas de jeito continuado supom um aumento substancial no endurecimento da repressom por parte do Estado mas caindo no vitimismo e laiando-nos das feridas nom amanhamos nada. Há que apertar os dentes e tirar para adiante, que se a repressom é dura nós ainda o somos mais e ainda resta muita terra por arar…

A solidariedade tem também que multiplicar-se e espalhar-se (em UNIDADE) por todos os ámbitos sociais, incluso nos que se acredita (erroneamente) que nom lhes afeta porque também a repressom é a negaçom do nosso Povo e abrangue todos os recunchos. A indiferença o único que fai é acrecentá-la.

Como diz a frase que no juízo-farsa a Fiscalia quijo empregar na nossa contra como indício delitivo: “Se já sabemos o que há que fazer e nom o fazemos, entom estamos pior que antes”.

Algo para engadir?

Somentes voltar a dar GRANDES AGRADECIMENTOS a todos os companheiros que de qualquer jeito mostram a sua solidariedade com os presos que nom podemos estar… mas ESTAREMOS! Na Terra e com a nossa gente!!

Também enviar muitos ánimos e toda a nossa força, que é muita, a todas as galegas que desde muitas variadas inciativas continuam a defender a Terra e a fazer País. Todos estes processos estám sempre em movimento, nada é estático e mais nestes tempos, que suspeito se avizinham anos de inflexom para mudar muitas coisas… assim que UNIDADE.

Temos que flicar atentas e dispostas porque, como sempre, a chave para todos os logros vai estar no trabalho de todas! Muita força, companheiras, e que se vós seguides furando fora nós seguiremos furando dentro.

NA GALIZA SEMPRE CEIVES

DENANTES MORTOS QUE ESCRAVOS

Até pronto