“De volta para Loureda”, novo blogue de apoio a Carlos Calvo

cabeceira3Um grupo de amigos de Carlos Calvo venhem de abrir o blogue “De volta para Loureda” e o perfil de facebook “Rede de Apoio a Carlos Calvo” com o objetivo de “converter-se num ponto de encontro mais que apanhe quanta solidariedade pudera para a causa do nosso companheiro”, como comentam na sua apresentaçom na que também manifestam o propósito de converter-se “noutro altofalante ao serviço da denúncia da perseguiçom política e da vulneraçom sistemática dos direitos humanos que está a realizar o Estado Espanhol na Galiza neste momento”.

A página, que iram completando com novos apartados, já editou um vídeo dumha das viagens que realizam familiares e amizades do Carlos cada fim de semana como denuncia do castigo que é a dispersom para @s achegad@s d@s pres@s.

Carlos Calvo atopa-se na prisom de Topas, Salamanca, a 413 km da terra. Está em prisom preventiva, ordenada pola AN desde o mês de setembro de 2012, à espera de juizo.

Aproveitamos esta nova para subir os dous últimos artigos do Carlos publicados neste novo blogue:

carlos_webColherinhas e concavidades

Nos poemas de César Vallejo aparece amiúde o símbolo da colher; nas prisons peruanas, eram a única pertença pessoal que lhes permitiam aos presos. Tanto como instrumento para levar o nojento caldo das cadeias à boca, a colher servia de ponto de sujeiçom numha situaçom de absoluta fragilidade ontológica; como a caneta nas maos dum conferenciante nervoso, ou o cigarro que é capaz de soster na realidade à gente que o sustém com os lábios com a força à que se lhe bota a mao a umha póla à beira do abismo.

Umha concavidade prateada evoca, como todas as concavidades, a segurança, o labor, o redimensionamento  de substância. A concavidade da banheira constrói um marsupio para amantes; a do colo materno, como os ninhos, para crianças; a do embigo, para o amor; a dos vales férteis como o da Amaia, para a exuberancia dos cultivos e o inçado de significados. O deserto é, com certeza, convexo.

Décadas despois do passo de César Vallejo pola cadeia, à beira do nascimento do neoliberalismo, a colher passou a ser símbolo dos novos despossuidos. Heroinómanos de Edimburgo ou Pena Moa faziam-se inseparáveis da sua colherinha. Os presos de hoje, como corresponde a esta época de colonizaçom dos tempos modernos, temos no cárcere colheres de plástico. Frágil, artificial, convexo. Colheres de dous tipos: umha vermelha, de plástico mais duro; que proíbem em regime de isolamento por ser arma potencial; outra, a  menos perigosa, de plástico finíssimo, branco, que rompe aos poucos usos. O propio para este nom-espaço que proíbe o cálido, o abraço, os lapis de cores, os símbolos, o côncavo. As colheres.

Centro Penitenciario de Aranjuez,  outubro 2012

Cal e cascudas

Recordava Albert Camus a desconcertante normalidade com a que ele e os seus companheiros de escola estudavam nuns libros de texto chegados da metrópole, ilustrados com estampas de nenos franceses abrigados com bufandas, luvas e gorros, para brincar na neve. Eles, en Argel, passavam o ano despidos na praia. Desta espécie de colonialismo banal da escola temos na nossa terra dúzias de exemplos. Nengum tan popular como o do mestre espanhol que lle pregunta ao neno labrego “¿Cuántos años tienes?”, mas também o desses estranhos mapas nos que ao Sul do Minho non havia nada; umha cartografia mental recortada sobre a que, posteriormente, se superpugérom disparatados mapas de umha língua que se falava também en Extremadura, Salamanca ou Samora, mas nom nas nom-existentes Valença ou Chaves.

Na nossa geraçom fôrom já mais ben o cinema e a tevê as que colonizárom o nosso subconsciente, na época da superproduçom das emoçons. Desse mundo ideal que nos projectavam através dos raios catódicos havia muitas cousas que despois nom nos quadravam com a realidade. Nem tínhamos gaveta no instituto, nem soava música nengumha quando beijavas umha moça no recreio, tal e como ditavam os cânones “videocliptados” da vida. Mas no que atinge ao colonialismo banal, era impossível nom preguntar-se que caralho era isso da cal da água que rebentava as tubagens, ou o desconhecido insecto chamado “cucaracha”. Juntos, constituíam seica as duas principais pragas bíblicas com as que Deus castigou a “pele do touro”. Foi chegar ao cárcere de Soto del Real e confirmar que nom se trataba de lendas urbanas. “Pom-lhe lixívia nas tubagens”, “coloca um copo boca abaixo no burato do prato de ducha”, recomendam os outros presos. E enquanto me meto na cama com preocupaçom por se me pasará o que ao Gregório Samsa, pergunto-me se isso do Estado de Direito também existirá realmente ou será só publicidade espanhola (e enganosa).

Centro Penitenciario de Soto del Real, outubro 2012