Crónica de umha visita a um preso independentista galego

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Reproduzimos polo seu interese testimonial a crónica dumha visita à cadeia que nos remitem duas pessoas, amigas de um preso político galego:

Temos visita com o nosso amigo preso o sábado às 11h30 no cárcere de La Moraleja (Dueñas – Palência), sarcástico nome para a cadeia inaugurada em 1997 polo ultra Jaime Mayor Oreja. Ali há outro independentista galego preso, mas ele tem as visitas no domingo, polo que nos é impossível coordenar-nos com os seus familiares para podermos viajar juntos. Instituiçons Penitenciárias sempre pom as visitas pola manhá, algumhas às 9h00, polo que obrigam a viajar de noite. Som 700 quilómetros ida e volta, e desbotamos a opçom do carro privado, optando polo transporte público. É muito mais ecológico e cómodo, já que se pode aproveitar para ler, parolar com calma, etc. Aliás, conduzir tantas horas é perigoso. Por desgraça na história do nosso movimento já se contam vários acidentes e mortes nestes deslocamentos que impom a política de desterro. Mas o transporte público nom é fácil. Há umha única linha de autocarro de Compostela a Palência (a que vai da Corunha a Barakaldo), e há que apanhar a maiores outro autocarro até Dueñas, e um táxi até a cadeia, além de ter muita sorte para que nengum destes meios de transporte se retrase e empeça apanhar o seguinte.

 

23h15 – Santiago de Compostela
O autocarro sai pontual da capital da Galiza, aonde chega já com várias pessoas que venhem desde a Corunha. A maioria som emigrantes que trabalham no País Basco.

00h45 – Lugo
Primeira parada em Lugo, onde sobem várias pessoas. Há que intentar dormir o que se poda no autocarro para nom estarmos desfeitos o dia depois.

02h15 – Ponferrada
Chegamos à capital do Berzo. Na fachada dum prédio oficial que parece umha escola, umha pintada: “Cursos en galego”. Algo é algo.

03h15 – La Bañeza
Estamos já em Espanha. Esta é a única parada da viagem na que nos permitem baixar do autocarro, um descansinho de 10 minutos para ir ao banho ou tomar algo quentinho na cafetaria da estaçom. Chamou-nos a atençom ao passo por Astorga, umha das três antigas capitais da Galécia, vermos o Hostal Gallego com várias rojigualdas na fachada, a falta de umha. Após a breve parada continua a viagem, e brincamos pensando que louco baptizaria estas terras como Campus Gallaeciae, pois nem do primeiro nem do segundo tenhem muito estas terras.

05h15 – Palência
Com seis horas de viagem já, chegamos a Palência numha noite mui fria. Deixam-nos diante -parece todo brincadeira aqui- da comisaria da Polícia Nacional, pois a estaçom ainda nom está aberta. Confirmam-se as nossas expectativas: somos os únicos que baixamos cá, todo o mundo leva por destino o País Basco. A estas horas é impossível achar nengum local aberto que nom for umha discoteque. Para as poucas horas que tínhamos que passar aqui nom pensamos em reservar um hostal, assim que nos dirigimos ao único prédio público aberto a estas horas: a estaçom de trem. Tem aquecimento e está-se bem, está completamente vazia, apenas umha trabalhadora imigrante que está a limpar. Intentamos botar umha soneca num dos bancos, e estamos vários minutos até que os seguratas nos dim que nom se pode dormir aí (?). Som já as 7h00 e a cafetaria da estaçom de autocarros está aberto já, assim que vamos almorçar.

08h00 – Palência
Na entrada da estaçom de autocarros há duas pintadas, umha anarquista solidarizando-se com a greve do metro de Madrid, e outra que di “Liberdade presos independentistas galegos”, o qual sobe a moral. Almorçamos com calma na cafetaria, que é dum asturiano, até que um animalinho entra e começa a lançar fascistadas de todo tipo cara o telejornal e a relatar para todo o local -interessaram-lhe ou nom as suas ideias- a política anti-terrorista que ele aplicaria se for Ministro de Interior. A qual, por outra parte, tampouco era tam distinta da de Rubalcaba. Abrem a venda de bilhetes e colhemos outro autocarro para Dueñas.

08h20 – Dueñas
Chegamos aginha, nuns vinte minutos. Dueñas é umha pequena vila, na fronteira comarcal entre Terra de Campos (Campus Gallaeciae) e El Cerrato. Tivo um passado interessante, e no conjunto histórico ainda se pode apreciar o seu passado esplendor medieval. No bar mais próximo à parada está a parelha da Guarda Civil tomando o café. Achamos outro, mas hospitalário, no que tomar um chá e aquecer o corpo.

09h00 – Dueñas
Nom sabemos se temos visita às 11h00 ou às 11h30. Até o cárcere há ainda uns 4 quilómetros e, claro, nom há transporte público até ela. Como temos tempo de sobra poupamos o dinheiro do táxi e vamos andando num passeio. A paisagem castelhana foi bem tratada já polas nossas letras como oposta à nossa, e em verdade oprime a alma atravessar essas leiras cheias de cantos, onde as poucas árvores que se vem semelham passar pena. Algumha cegonha racha a monotonia. Chegamos ao Pisuerga, afluente dum Douro que mais adiante fala já a nossa língua. Vai completamente poluído e fede a esterco de galinha proveniente de umha granja situada à sua beira. Ao outro lado da ponte, um carro da Guarda Civil espera numha corredoira, justo ao lado de umha parede com umha pintada: “Abajo los muros de las prisiones”. Uns quilómetros mais adiante soubemos o porquê de tanta presença da Guarda Civil: há umha “cunda”, um translado de presos. Um ônibus do corpo militar espanhola passa como umha bala ao nosso lado por um estreito caminho, justo onde ao lado do cárcere passa o traçado do AVE que está em obras. Adivinham que língua falam os operários?… Som portugueses.

09h40 – La Moraleja
Chegamos já ao cárcere. Na entrada um enorme monólito com a placa da inauguraçom “en nombre de El Rey Juan Carlos I” e a rojigualda. Passamos primeiro pola janela na que se lhe passam os pacotes aos presos. Como nom, ponhem travas, por dous livros fotocopiados, um sobre jadrez e outro dumha revista portuguesa de agricultura ecológica. Parece ser que os vam reter porque nom tenhem copyright (?), como é lógico nos textos sob licença copyleft… Já antes tivéramos que encaderná-los em tapas duras, pois os carcereiros dim a enquadernaçom em espiral nom está permitida, porque “pode ser empregada polo preso para se suicidar” (sic). Num dos bancos que há fora, umha pintada a favor da liberdade do povo amazigh riscada na madeira.

10h00 – C.P. La Moraleja
Identificamo-nos e passam-nos polo detector de metais. Todo pita. Sem cinto nem botas passamos já. Chegamos mui cedo e temos que aguardar até pouco antes das 11h30, que é quando nos toca o turno para falar. A sala de espera vai-se enchendo pouco a pouco. A um senhor dim-lhe os carcereiros que nom pode aceder à visita com casaca azul ou verde, porque dim que som as cores das forças de segurança do Estado e podem levar a confussom. Estám loucos estes espanhóis. Há muita gente, muitos árabes e ciganos. Aginha localizamos outros familiares de presos políticos e falamos com eles. A solidariedade é sem dúvida o melhor destas cousas.

11h15 – C.P. La Moraleja
Chega, por fim, a hora da visita. Chamam-nos a toda a gente que estamos na sala da espera e que já entregamos o bilhete de identidade. Cruzamos o pátio central, que apresenta um aspecto desolador: várias das figurinhas com forma de cegonha que decoram um espaço que seguramente chamarám “jardim” estám decapitadas. Polo caminho um carcereiro vem junto dos familiares do preso político basco e junto nossa para dizer-nos que cabinas temos que usar para a visita. “Para que depois digam que nom fam distinçom entre presos políticos e sociais”, di-nos um dos familiares do basco. Entramos noutro prédio. Nas paredes há algum cartaz de umha convocatória a assembleia geral de um sindicato de carcereiros. Surrealismo a mais nom poder.

11h30 – C.P. La Moraleja
Aí está o nosso amigo! Quando chegamos já está metido numha cabina, que nom é a que nos indicárom, e alá vamos a sentar-nos. Aos poucos segundos chega um carcereiro furioso a dizer-nos que vaiamos para a que nos dixera. A ele mandárom-lhe ir a umha e a nós a outra distinta e agora zangam-se… Temos por diante, após tantas horas de viagem, uns escassos 50 minutos para contar-nos miles de cousas. Amiúde pensa-se que as visitas às cadeias som um alívio e um bocado de ar fresco sobretodo para o preso, mas na realidade, quem vai visitá-lo volta carregado de energia. Da conversaçom tiram-se dados interessantes; como que a reforma que estám a aplicar do Código Penal tem umha funcionalidade mui concreta: a crise também afeta às cadeias, e a superpopulaçom da mesma está a afogar os seus orçamentos, polo que cumpre botar gente fora. A qual? Pois à gente com condenas por narcotráfico: incrementam as condenas a “camelos” e diminuem as dos narcos, que estám a sair massivamente nestes meses após as reduçons de condena. Todos para fora, menos os políticos, claro.

12h20 – C.P. La Moraleja
Remata a visita. Devolvem-nos o bilhete de identidade e saímos da arquitectura psicópata. Abrolha a solidariedade carcerária e temos quem nos leve até Dueñas para colher o bus, que até as 14h30 nom chega. Depois colhemos o bus até a Galiza às 15h00 em Palência, polo que vamos justinhos de todo, como este bus se demore algo ficamos tirados. Passeamos pola zona antiga de Dueñas que é bastante bonita, e buscamos em vao onde comer algo. Afinal aprovisionamo-nos no supermercado e montamos um pique-nique à portuguesa na parada do autocarro. Fai um frio do demo nesta meseta.

14h30 – Dueñas
Chega justo de tempo o autocarro que vai de Valhadolid a Palência. Vai cheio de universitárias e universitários.

14h50 – Palência
Chegamos à estaçom e “reembarcamos” directamente noutro autocarro que nos trai à Galiza. À volta fai mais paradas, e polo tanto leva-lhe mais horas. Nós também voltamos muito mais cansados, e polo tanto durmimos quase todo o caminho, baixando apenas em algumha parada para ir ao banho ou comer um bocado.

22h00 – Compostela
E aqui estamos de volta. 700 quilómetros, bastante dinheiro em meios de transporte, e quase 24 horas de viagem para só 50 minutos de visita. É o preço da dispersom.