A repressom e nós

Além dos seus objectivos e consequências políticas, sempre planificados, a níveis mais domésticos a repressom tem o poder colateral de esclarecer os autênticos e íntimos perfis dos indivíduos e agentes colectivos que conformam o espectro nacionalista galego. Quando impom a sua presença sob modos mais ou menos brutais, a vida agita-se e resitua-se. A teatralidade do quotidiano fica espida e todos, por activa ou por passiva, se retratam ante a sua interpelaçom. Desde sempre, quando a repressom pujo os pesunhos sobre a mesa, essas atitudes abalárom entre a firmeza de quem chamam o inimigo polo nome e praticam solidariedades incondicionais e incondicionáveis, e as posiçons de quem, guardando-se a dignidade nalgum secreto lugar, fôrom capazes de calar e olhar para outra parte –“O de Laura Bugalho é um assunto pessoal”- ou, incluso, como Carlos Callón no passado 19 de Maio ou Anxo Quintana nos dias posteriores ao início da ‘Operación Castiñeiras’, tivérom estómago avondo para anunciar a disposiçom para delatar e colaborar com juízes e polícias do Estado que nos priva de soberania, ou pedírom “que caia todo o peso da lei” sobre pessoas cujos compromissos e motivaçons som bem conhecidos. Os retratos som inapeláveis. Entre esses extremos ideais existe umha ampla gama de atitudes e posiçons que também definem as pessoas e agentes sociais e políticos que as sustentam. As últimas semanas achegárom-nos mais umha vez alicionadores exemplos gráficos de como quando o lobo asoma as orelhas, mesmo que sejam apenas as pontas das orelhas, caem as estéticas, as retóricas e as aparências. A diversidade de reacçons é sintoma da diversidade de perfis políticos e humanos, valha a redundáncia, que co-existe no nacionalismo galego e convida simplesmente a tomar nota. Assim, descubrimos mais umha vez que há sissudos revolucionários e anticapitalistas que realmente som ferventes partidários da lei, que deve ser aplicada com rigor para determinar inocências e culpabilidades; progressistas e nacionalistas que pedem “toda a contundência” policial e judicial para compatriotas cujas intençons e compromissos conhecem; vizinhos apolíticos que petam à porta para dizer apenas “Estamos aqui para o que necessitedes”; dirigentes políticos e sindicais de extenso curriculum que figérom contas sobre votos, subsídios ou prestígios enquanto outros estavam atrapados nas poutas da besta; rebeldes que entendérom também a solidariedade como representaçom, encenamento ou espectáculo e, em vez de convocar a que fluisse maciça e incontrolável, como um torrente popular de apoio e reconhecimento, anunciárom o seu constrangimento à delegaçom; votantes do PP que percorrérom quilómetros para visitar um combatente preso; companheir@s que torcérom a olhada a partir do dia do assinalamento público ou rírom desde esse momento com meio riso… Fazer a listagem de reacçons seria interminável. No entanto, todas tenhem em comum umha característica: fam a foto fixa do presente e advirtem sobre quem é e quem apenas simula ser. Do acontecido convém tomar nota. Umha comunidade social nacionalista madura deve ser absolutamente intolerante com a comissom de determinadas atitudes no seu seio.