Rei espanhol situa a luita firme contra os projectos independentistas como prioridade da agenda estatal nos próximos quatro anos

Saber ler entre linhas é umha exigência para qualquer um que quiger aventurar-se a sério na interpretaçom dos verdadeiros desejos e projectos das autoridades espanholas. O rei espanhol que Francisco Franco nomeara em 1969 como o seu “sucessor” na Chefia do Estado instava na passada quarta-feira aos deputad@s e senador@s das duas câmaras espanholas a trabalhar “com tesom” e situava as duas prioridades principais da agenda estatal para a IX Legislatura: manter unido o seu Reino e perpetuar o status quo neoliberal ante a crise que se anuncia. Aferrado inseparavelmente ao feixe de papéis que continham o seu discurso, Juan Carlos I de Borbón apelou a recuperar o consenso dos dous principais partidos espanhóis nas “grandes políticas de Estado”, que concretou na “luita contra o terrorismo” e o enfrontamento da crise sócio-económica prevista. Acompanhado da sua senhora Sofia de Grécia e do resto da família, o rei espanhol presidiu no ‘Congreso de los Diputados’ a cerimónia de abertura da legislatura e anunciou que, nestes quatro anos, “a luita contra o terrorismo ocupará um lugar crucial”. O alto mandatário vincou na ladaínha da “unidade de todas as forças democráticas”, à que definiu como umha das exigências “mais unánimes e insistentes” dos espanhóis, como estratégia fundamental na luita “antiterrorista”. Mais ‘Sagrada Unidad de la Patria’ e persistência nas velhas receitas As palavras de Juan Carlos I de Borbón nom podem resultar mais eloquentes à vista da actual agudizaçom sem saída visível do conflito basco e do tratamento repressivo excepcional que neste momento estám a receber diferentes movimentos sócio-políticos e organizaçons dissidentes em toda a geografia do Estado. A este respeito, o rei espanhol apenas ofereceu como alternativa as tradicionais e fracassadas terapias policiais, judiciais e penitenciárias e a continuidade dumha espiral repressiva sem fim que, embora provoca o entusiasmo da maioria social espanhola, é impotente para resolver o conflito entre Euskal Herria e Espanha e visa impedir, por via repressiva, o desenvolvimento e avanço de outras luitas nacionais e sociais no território do Reino. Neste sentido, interpretariamos o previsível entendimento fluido sobre “terrorismo” que se cozinha entre as formaçons espanholas maioritárias como um dos piores cenários imagináveis do ponto de vista repressivo, dado que abriria a porta a um reforçamento qualitativo das tendências mais regressivas e inquisitoriais que estám na cerna do projecto espanhol. A risco de errarmos nos nossos prognósticos, afirmamos que a compactaçom simbólica desse bloco espanholista preanuncia maiores níveis de criminalizaçom social e beligeráncia contra movimentos independentistas como o galego, maior contundência da repressom selectiva e a abertura de margens superiores de impunidade sob a premissa irracional de que “independentismo é terrorismo”. A imagem vale mais do que mil palavras Se calhar como advertência subliminal do que podem ser os tempos vindouros, o início da IX Legislatura espanhola desenvolvia-se a meio dum enorme despregamento policial, controlo da circulaçom de cidadáns, acordonamento dos acessos ao Palacio de la Carrera de San Jerónimo, exibiçom de chauvinismo espanhol por toda a parte, umha eloquente presença do estamento militar na celebraçom e, sobretodo, umha ainda mais significativa ausência de povo. Um cenário próprio dum Estado de Sítio ou do encenamento público dum poder ilegítimo que, paradoxalmente, visa comemorar o início dum novo ciclo político da ‘democracia a la española’.