Outra vez

De novo, detençons. De novo, registos, declaraçons exultantes das autoridades que todos sabemos miseráveis, informaçons mediáticas que atribuem impunemente filiaçons e militáncias que nem os próprios captores ousam afirmar, incomunicaçom prolongada, legislaçom especial, medo, mas, principal e fundamentalmente, solidariedade, solidariedade atreu. Conduçons a Madrid, a sombra da Audiência Nacional de Espanha -essa velha conhecida de quem neste país nom arriou a bandeira da soberania- a rondar como avutres sobre os amantes a coraçom aberto da naçom… De novo a repressom descarnada nas suas formas mais espectaculares. O terror. A incerteza de familiares, companheiros e amigos, o temor, as perguntas inevitáveis, “Onde os terám? O que lhes estarám a fazer? O que se sabe dos rapazes?”. De novo, a Guarda Civil, essa sombra da noite que aterrorizou nossos visavós, avós, maes e pais e impujo décadas de siléncio das que implacavelmente nos acabaremos liberando. “O que se sabe dos rapazes?”. “O que lhes estarám fazendo?”. Os telefones a zumbar. Ninguém sabe nada. Espera. Solidariedade. Ódio. Bágoa. Dor. Dor. Que ridículos resultamos agitando as nossas diferenças tribais quando a Besta esperta e ocupa a cena… A detençom de três supostos independentistas galegos na passada madrugada tirou das camas no dia de hoje a dezenas de pessoas em todo o País antes da hora habitual. “Som nossos?”, pergunta-se por toda a parte. “Quem som? Onde estám? O que lhe estarám a fazer aos rapazes?”. Primeiros dados e iniciais, vozes nossas e paredes que falam anunciam que os detidos som amantes da naçom, independentistas, militantes, patriotas galegos que contemplam a aceleraçom do processo destrutivo deste velho País que se resiste a desaparecer. Incomunicaçom. Lei Antiterrorista. Siléncio. Madrid. Prisom. “¿Por qué no te callas?”. O asfaltado do litoral para o branquejo da cocaína, a destruiçom da paisagem que olhos galegos contemplárom durante séculos, a conversom dos nossos rios e montanhas em geradores para um desenvolvimento alheio, a transformaçom do nosso território num enorme “Monopoly” onde interesses mafiosos fam e desfam sem consideraçom nem limite, em resumo, a agonia do Nós, é umha realidade violenta que doe nos filhos e filhas desta Terra. A colonizaçom ainda nom foi tam efectiva como para converter-nos em palhaços inertes e insensíveis. Há quem reage. Podemos condená-lo. Podemos gavá-lo. Tanto tem para o caso… O caso é que se reage e essa reacçom saca-nos violentamente da pracidez do descanso nocturno. Medo. Bágoas. Orgulho. Valentia. Dignidade sem festivais. Principalmente, e por cima de todo, Solidariedade. Com essa força que evidencia que seguimos vivos. Com essa intensidade que vira estúpidas as taxonomias independentistas. Podemos condenar. Podemos gavar. Podemos susurrar admiraçons furtivas que nom comprometem. Podemos incluso argumentar sobre tácticas e estratégias acertadas dentro deste rio imenso e diverso a fluir, apesar de todo, que se chama processo de liberaçom nacional e social. Haverá incluso monicreques de meia barba a pedir “que caia sobre eles todo o peso da lei!”. Seja como for, três jovens que amam a Galiza com a pasiom com que só ama quem se esqueceu de si estám nas maos das FSE. Sem famílias. Sem amigos. Sem advogados. Em maos inimigas. Sós. Aqui, em Madrid ou em caminho face algum Guantánamo democrático. “Onde estám os rapazes?”. “O que lhes estám a fazer?”. Podemos compartilhar. Podemos criticar. Podemos passar o tempo a falar comodamente. Tanto tem… O único certo aqui é o espólio, a pauperizaçom, a nossa conversom progressiva numha sociedade idiota e a desesperante confirmaçom visual e empírica de que Galiza se nos escapa irreversivelmente das maos, como areia fina… Todo isso volve provocar convulsons. A colonizaçom ainda nom foi tam efectiva como para converter-nos completamente em palhaços sorridentes. Há quem reage. A gente opina. Medo. Ódio. Incertidume. Bágoas. Dentes apertados. Dignidade. Vozes amigas que susurram “Estamos aqui para o que querades”. “Onde estám os rapazes?”, “O que lhes estám a fazer?”, “Já os levárom para fora?”. Queremos que volvam para a casa. É um delito amar este País? António Castinheiras, militante galego