“Posts” do preso independentista Ugio Caamanho de 26 a 28 de Novembro

Editamos a última entrega do blogue que vimos de receber desde Navalcarnero, prisom espanhola onde se encontra actualmente preso o independentista galego Ugio Caamanho. 26 de Novembro de 2005, sábado Curioso como se passa o tempo aqui. Como veloz, e como baleiro. Hoje cumprimos quatro meses desde que nos encerrárom em prisom; parece que foi ontem e parece que nom existisse nada que justificasse esse período de tempo: nem luitas, nem textos políticos, nem estudos, nem muitas leituras até. Eduardo afirma que se deve à compartimentaçom do tempo, aos horários da prisom: tam absurdos que deixariam escapar os minutos entre as regandixas, impedindo que nos organizemos para aproveitar as horas. A compartimentaçom dum dia pode ser esta: 8:00 Reconto 8:30 Pequeno almoço no comedor 9:30 Inglês no módulo cultural 11:00 Tempo morto (nom se pode empregar a sala de estudo) 13:15 Almoço 14:00 Chape nas celas 17:00 Baixada ao módulo, recolhida do correio e imprensa (se houver). 17:30 Ginástica 18:30 Tempo morto (nom se pode empregar a sala de estudo) 20:30 Jantar 21:00 Chape nas celas 24:00 À cama Os momentos próprios para a escritura, leitura ou estudo seriam os “tempos mortos”, mas a sala de estudo está ocupada com aulas e no pátio ou na sala é impossível, polo ruído e pola falta de mesas e cadeiras. Ou entom nas horas de encerramento na cela, catorze e meia cada dia: seis delas de vigília, mas sendo dous faz-se difícil, porque só há umha cadeira e umha mesa anana, porque a música de um desconcentra o outro, etc. E isso que na minha cela nom temos tevê! Estudei várias soluçons possíveis, todas imperfeitas. Afinal resignei-me a perder os tempos mortos de pátio e aproveitar os chapes o melhor que podo. Mas nom me dá para muito mais que para responder as cartas, para ser franco. Assim que os carcereiros vam ajudando-me como podem, de vez em quando. Hoje, por exemplo, acabam de comunicar-me que a sançom polo plante de Giana e meu em Soto é de doze dias de isolamento. Como doze? Porque entendem que a tentativa instintiva de soltar o meu braço da mao do carcereiro, retrocedendo um passo, entra no tipo de “agressom/ameaça/coacçom a carcereiro”. Vaia figuras… Enfim, como da outra vez recuperarei tempo, estudarei e lerei até aborrecer-me, assim que nom protesto. O único mau é que vai um frio do demo e em isolamento nom botam o ar aquecido que alivia as noites nos módulos, e a duche, sem estar fresca, nunca passa de morna. Vamos, que se passa frio ainda em pleno verao, para quanto mais neste inverno castelám. Mas com algo de roupa e de exercício… Talvez me encontre o Fernando, ademais, com o que coincidim anteontem na visita dos advogados: ficou só no módulo de isolamento, ao longo do dia nom vê mais do que carcereiros. A ver se nos encontramos nas duas horas de passeio diárias. 28 de Novembro de 2005, segunda-feira Leva o seu tempo apreender a lógica singular que rege a cadeia, se é que algumha há, cousa duvidosa. Mas o outro dia figemos quatro meses por estas casas e algo de experiência já fomos acumulando. Entre os episódios que melhor podem explicar o modo de funcionar dos carcereiros, eis a minha liorta por um flexo: Aclaremos de início que nas celas a única luz que há é débil e está situada longe da mesa, polo que para ler ou estudar ou escrever há que escolher entre fazê-lo na cama e com luz, ou na mesa na penumbra. Antes vendiam flexos no economato e assunto resolto. Ao chegar eu suprimírom-nos o economato e houvo que conseguí-los polo serviço de compras externas (“demandadeiro”), mas justo a semana que pudem pedi-lo decidírom retirá-lo também da listagem de produtos que se podiam adquirir, como também proibírom que os introduzíssem os familiares e amigos via pacote. Entendamo-nos: nom estám proibidos os flexos na prisom. Estám proibidas, isso sim, todas as vias para comprá-los: economato, demandadeiro ou pacote. Excepto, naturalmente, o mercado negro (comprei um por seis euros e estragou-se à semana, depois de fazer saltar os fusíveis do módulo). Como levava muito tempo sem lios, quigem pelejar o tema para passar o tempo, para fastidiar um pouco ao SS e também, porquê nom, por se acaso acabava conseguindo o flexo, e assim deixava de gastar os olhos mais do que de seu se gastam na cadeia (que nom é pouco). Assim que o 2 de Novembro enviei umha instáncia ao SS, bastante argumentada em previsom de poder apresentá-la ante o Juíz de Vigiláncia Penitenciária quando me fosse denegada. Em resumo, explicava que estou a estudar na UNED, que a luz da cela é insuficiente e que o cárcere nom mo proporciona polo que pedia autorizaçom para que mo metesse a família via pacote. Umha semana depois chega a resposta, como sempre sintética: No autorizado, adquiéralo en economato. O 10 de Novembro faço um maço com a instáncia, a resposta e um fólio novo onde replico que, trás intentar novamente comprar um flexo no economato, o encarregado confirmou-me que nom disponhem de tal artilúgio. Portanto, autorize-me que mo traiam os meus familiares. Uns dias mais tarde chega a resposta: Adquiéralo por compras externas previa solicitud. O 13 de Novembro apanho umha listagem de demandadeiro, aponto “um flexo” e adjunto o maço com a minha correspondência com o SS. O 14 de Novembro devolvem-me o maço indicando-me que devo solicitar permisso para comprar um flexo. O mesmo dia 14 de Novembro envio o maço de papéis ao SS com um novo que diz: Solicito autorizaçom para adquirir flexo. O dia 22 de Novembro o SS devolve-me o maço com umha palavra nova: Autorizado. O dia 27 de Novembro vou pedir o meu flexo ao demandadeiro, adjuntando a autorizaçom, mas encontro um cartaz que avisa de que essa semana nom há compras externas já que o dia que teriam que traer os produtos (onze dias depois) é feriado e nom trabalham (é o dia 8 de Dezembro). Resigno-me a esperar mais umha semana. O dia 28 de Novembro, mentres comento com o Eduardo a sançom de doze dias de isolamento, de súbito olhamos o um para o outro com expressom de horror e gritamos ao tempo -O flexo! O dia de fazer a encomenda ao demandadeiro (os domingos) estarei em chopano e nom poderei. E o domingo seguinte seguirei em chopano. Terei o flexo para o dia de anos?