Publicamos os “posts” do blogue do preso independentista Ugio Caamanho de 21 de Outubro a 16 de Novembro

Continuando com a ediçom do blogue do preso independentista galego Ugio Caamanho, publicamos nesta ocasiom os posts correspondentes às mais de três semanas que vam de 21 de Outubro passado a 16 de Novembro: 21 de Outubro de 2005, sexta-feira Porque me dá igual passar uns dias em chopano, que se nom era para montá-la gorda. O primeiro parte vale: dez dias polo plante de Agosto. Mas o do segundo é para morrer de riso. Ainda nom culminou o processo, mas por enquanto a “prega de cargos” explica o meu chapeio (o conjunto com Giana por ter-me batido) e o seu precipitado final com estas palavras: “(…) se niega a salir de su celda (…). Personado el jefe de servicios se vuelve a negar a obedecer la orden, ofreciendo resistencia y revolviéndose contra un funcionario que le había sujetado por el brazo, es llevado a aislamiento”. Em suma, que tratei de ceivar o meu braço, simplesmente retrocedendo. E o melhor de todo: “los hechos descritos pudieran ser constitutivos de FALTA: a) 108 B Agredir/amenazar/coaccionar personas… MUY GRAVE… Aislamiento entre 6 y 14 días”. Como podem ter tanto morro? O mesmo carcereiro que a semana anterior contemplara impávido como me bateram, esse dia nom só me agarra primeiro polo braço e depois polo pescoço, senom que ademais o mui porco acusa-me de “agressom/ameaça/coacçom”! Disso e da “resistência activa”, claro, como no outro parte. Duvido se alegar ou deixar correr o tema. Por umha parte o isolamento nom me desgosta, seguro que lhe tiro partido escrevendo e estudando. Mas polo outro, nom responder de algum modo a esta canalhada parece-me intolerável. Algo, algo dalgum género, haveria que fazer para pôr as cousas no seu sítio (mas nom creio que alegue). Outro exemplo da condiçom de pequenas e míseras alimanhas dos carcereiros: roubárom-me os jornais dos dias 12 e 13. Os que recolhiam a concentraçom contra o bandeirom de Paco Vázquez. E eram meus: estou subscrito, enviam-mo da Galiza todos os dias. Mas os do 12 e 13 desaparecêrom, apenas me passárom os anteriores e os seguintes: 14, 15, 16, 17, 18,… Contam os bascos que costuma acontecer-lhes com o Gara. Por isto sim os denuncio. Ao Subdirector de Segurança. Por roubo. 24 de Outubro de 2005, segunda-feira Deixei de fumar. Levava meses à procura de um bom motivo, nom me convencim os argumentos da saúde, e os económicos sim pesam, e mais agora que nom vivo do meu trabalho, mas nom o suficiente porque de resto nom gasto muito, conformo-me com pouco. Afinal dei com um argumento a que nom me podo resistir. A minha segunda visita a chopano em Soto foi mais levadeira do que a primeira, porque coincidim lá com Francesco (nom sei se já falei dele aqui), o anarquista italiano que iam extraditar por pertença a umha organizaçom armada. Por descontado passamos o dia a conversar de todo, de política, das respectivas peripécias antes e depois de caír, etc. Mas já de começo, ao pouco de chegar eu, perguntou-me: – Trouxérom-te sem nada, nom é? – Nada, nem livros nem rádio, nada. – Nom te preocupes que já eu che passo revistas. Lês italiano ? – Podo tentá-lo, o que tens? – O “Progetto Memoria” de Curcio, conheces? – Ouvim falar. – Fumas? – Fumo, mas apanho-me bem sem tabaco, descuida. Ti fumas? – Nom, eu som straight edge. – Vaia, lamento, isso tem cura? Bem, isto último nom lho digem mas podia tê-lo feito perfeitamente. O caso é que , ademais de enviar-me um “carro” (gíria outra vez: um engenhoso sistema para intercambiar objectos de cela em cela, por meio da janela. Já o explicarei noutro momento) com livros e tabaco, recebim umha liçom de “europeidade” pura. Ou isso me pareceu a mim: alguém na Galiza sabe o que é o straight edge? Alguém o pratica? O straight, polo que Francesco me explicou e logo confirmou Eduardo, consiste numha série de auto-limitaçons que visam atingir o máximo de liberdade e independência pessoal. Entre outras, nom fumar, nom beber álcool e nom consumir drogas. Trata-se dumha aversom visceral à perda de controlo dum mesmo e à adiçom a qualquer substáncia. Claro, tem mais implicaçons. Para começar, pertence ao universo anarquista e em particular à corrente essa da defesa dos direitos dos animais, por isso outras auto-limitaçons referem-se ao consumo de carne, ovos, leite… Vestir coiro ou pele… etc. Eu com isso nom tenho nada a ver, como é evidente. Mas a primeira parte, a da “vida sá”, sim me simpatiza. A repugnáncia polas adiçons. Assim que umha manhá acabou-se-me o papel de liar, imaginei-me a mim mesmo trapicheando papel e acto seguido desfigem-me dos dous pacotes de tabaco Virginia que me restavam. Era sexta-feira e decidim nom ser já mais um drogadito. O bom é que nom me está resultando sacrificado, nom o sinto como umha renúncia. Cada vez que “ladra a cadela”, que se faz sentir a nicotina, alegro-me por mim e respiro aliviado: acho que o conseguim. 28 de Outubro de 2005, sexta-feira Estám chalados. Nom fijo falta denunciar o Subdirector de Segurança (no sucessivo, SS), bastárom várias instáncias tipo “quero os meus jornais”. Claro, respondeu com reiterados “eu disso nom sei nada, todo o que recebemos enviamo-lho o mesmo dia”. Mas onte deu-me o do 13 de Outubro, e hoje os do 25 e 12 de Outubro. Isto nom há quem o entenda. Como o das visitas. Inteiro-me de que nom lhes constam as oito pessoas que eles mesmos me autorizárom, apenas os três da primeira visita. Como é amanhá já nom tenho tempo de arranjá-lo e virám dous dos que já vinhérom. Ou bem tratam de fastidiar-me, ou bem trabalham ao estilo espanhol: Vuelva usted mañana, e todo isso. Como me comentou um companheiro falando precisamente disto: Larra. Por certo, estes dias chegou um cargamento de bascos de Soto, entre eles Arkaitz, do módulo 2. Parece-me que teremos tempo de reencontrarmo-nos todos os daquele módulo, numha cadeia ou outra, um ano ou outro. 31 de Outubro de 2005, segunda-feira Hoje apareceu morto na sua cela, enforcado, um basco preso em Sória. Antes estivera cá, em Navalcarnero: os daqui conheciam-no e hoje andavam feitos pó com a notícia. Ou com a nom-notícia, em realidade, porque os Bourbons parírom um outro filho e portanto o mundo está suspendido por uns dias; ou se nom o está parece-o, porque embora arda polos quatro cantos os jornais e televisons nom prestam ouvidos mais do que ao “acontecimento”. Assim as cousas, pouco importa que um preso se mate na sua cela, num lugar onde a responsabilidade do Estado está à vista de todos. Um, ou dous, ou mais, porque hoje em concreto nom foi apenas o basco, também um social na mesma cadeia pujo fim aos seus dias. E desde há quinze dias houvo dous ou três mais, sei lá onde, mas o tema é tam grande e sério que agora em Navalcarnero andam organizando umha rede de presos para ensinar-lhes algo de “prevençom de suicídios” e pô-los a viver com os que eles vem que nom aturam mais. Ocorre-se-me que seria interessante comparar a proporçom de suicídios entre a populaçom total com a populaçom reclusa. A diferença, com certeza escandalosa, acho legítimo atribui-la à responsabilidade do Estado. Crimes de Estado, ou do sistema carcerário como tal. Quantos serám? Quantos cadáveres terá acima da mesa a Gallizo, directora de Instituiçons Penitenciárias? Cinco ao ano? Vinte? É difícil dizer porque nom costumam sair na imprensa. Pola minha escassíssima experiência carcerária pouco sei: em Soto, no módulo 2, umha noite vinhérom por um preso morto e nom voltámos saber dele, é dizer, estava morto mas nom se sabe com nem por que. Em Navalcarnero, no 2, havia dous “suicidas potenciais” quando eu cheguei. Algum carcereiro, numha explosom criativa, decidiu colocá-los na mesma cela: essa mesma noite um curtou-se as veias. Sobreviveu, de milagro, e o outro por algum extranho motivo nom seguiu o seu exemplo. Este caso nom entraria na estatística de suicídios, talvez mesmo a ocultem e nom compute como “tentativa”. Mas ajuda a aquilatar os carcereiros e os seus chefes. Vaia personagens. 5 de Novembro de 2005, sábado Umha outra vez em chopano! Comezei a quinta a pagar a sançom do primeiro parte: afinal, oito dias, menos dous que já cumprim em Soto, restam seis. A terça saio daqui. Acho que prefiro este ao de Soto, a cela está limpa, pudem traer rádio e livros (porque nom estou no art. 72, mas em cumprimento de sançom)… e nom me batêrom. Bem, bem. Aproveito o dia, fartara-me já de tanto pátio e tanto curso inútil (inglês para principiantes, informática para novatos), assim que estes seis dias recupero o tempo perdido com o euskara, inglês, leituras e escritos. E estou só na cela, o qual há que valorá-lo já que em Navalcarnero, fora do isolamento, um nunca fica só, nem para ir ao banho; com o passo do tempo faz-se notar esta necessidade de solidom. De resto, um golpe de sorte e um cabreio. O primeiro, que dei com Fernando, o asturiano, porfim! Ele passeava por um pátio de isolamento, eu por outro que está separado por um muro mas com umha fendinha pola que passa o som. Assim, sem vermo-nos, conhecemo-nos e soubemos que andávamos o um à procura do outro desde a sua detençom, porque as nossas peripécias parecem-se muito, dentro e fora. E soubemos mais: soubemos que nos conhecíamos dantes, da rua. Em concreto de Catalunya porque os dous assistíramos ao Rebrot 01 de Maulets, em Julho de 2001, onde ele falou por Andecha Astur, eu por AMI, e se nom recordo mal rimos muito com umha criaçom lingüística deles, a de chamar “calella burrona” às suas luitas de rua. Quem nos ia dizer que a seguinte vez que nos encontraríamos seria falando por umha fisura num muro de Navalcarnero! Está muito bem e muito inteiro, e eu sigo a sentir enveja da sua posiçom. Mas há que conformar-se. O cabreio é que a tal hora devia estar num vis-à-vis com meus pais ou, em todo o caso, com comunicaçom normal com amigos. Mas em chopano, se é por cumprimento, nom há vis-à-vis e a comunicaçom é sextas-feiras. Nom pudem telefonar até a própria sexta, de modo que me deixárom, por segunda semana consecutiva, sem ver amigos. 11 de Novembro de 2005, sexta-feira Parece um filme desordenado, com fotogramas de diversas partes da trama a saltar aleatoriamente à tela. Assaltos às cercas de Ceuta e Melilha, tentativa de atentado islamista em Austrália… e agora revolta juvenil na França. Mire-se como se mire, ordenem-se como se ordenem os fotogramas, o que está claro é que as chaves do nosso tempo oponhem às sociedades de consumo ocidentais com as identidades do resto do mundo, especialmente a muçulmana. Pessoalmente nom me parece raro: se reparamos na situaçom global, resulta que o resto dos povos estám a trabalhar para nós, mentres Ocidente acapara todos os gelados e todos os DVD. Às vezes desde os seus países, e entom as empresas europeias e ianques instalam-se em Paquistám e empregam a sua mao de obra e recursos naturais, quase grátis. Às vezes nom se pode exportar a produçom, porque as casas há que construi-las cá, e para limpá-las compre estar dentro, entom som eles que venhem e viram “imigrantes”. Seja como for, o trabalho vai sendo a cada mais cousa de estrangeiros, mentres os europeus nos dedicamos, sei lá, a empresas de marketing ou à funçom pública ou a dirigir empresas. A isso, e a comer gelados, comprar DVD e fazer turismo por esses países encantadores onde vivem os que fabricam a parte boa do mundo. Nom é raro que queimem carros, que queimem todo o que podam. Um psiquiatra irlandês que trabalhava em USA sostinha que nom havia doença num preto que se sumasse às revoltas de Los Ángeles, muito semelhantes às francesas, por certo. Mas o preto que nom saía à rua a queimar cousas, esse, dizia à polícia, traiam-mo porque sim tem problemas psicológicos graves. A fim de contas, o estranho é nom reagir quando se é agredido. Ou, como dizia Luther King, “Quando reflitamos sobre o nosso século XX, nom nos parecerám o mais grave as malfeitorias dos malvados, senom o escandoloso silêncio das boas pessoas”. Nom sei se existe umha teoria social e um programa político perfeito para o mundo actual. Mas sim sei que, com ele ou sem ele, o silêncio é escandaloso e a acçom, cerebral ou com as entranhas, de massas ou solitária, segue a ser inexcusável para as boas pessoas. 12 de Novembro de 2005, sábado Às vezes acontece que um recorda um velho amigo de quem há tempo que nom tem notícias, em quem há tempo nom pensa, e ao pouco soa o telefone: é ele. Nesses casos podemos acabar acreditando na telepatia ou no ocultismo, quando a realidade, mais simples, explica a coincidência por umha cançom que saiu na rádio e os dous escuitárom, e guardava relaçom com algum episódio compartilhado, por exemplo. O outro dia perguntava-me polo índice de suicídios nas cadeias espanholas, e ontem dérom-me um exemplar de La Voz de Galicia (8/11/05) exactamente com esse dado. Nom é mágia: há pouco, dous suicídos em Sória. Ótimo, e quais som os dados? Ei-los: – A taxa de suicídios era de 54 presos por cada 100.000 em 2001, e veu subindo até chegar aos 80 presos por cada 100.000 em 2004. – Em 2004 suicidárom-se 40 presos em total. No que vai (até 8/11) de 2005, há 33 suicídios “confirmados” e 19 “por investigar”, isto é, 52. – Entre 2001 e 2005 morrêrom “sob custódia” de Instituiçons Penitenciárias 806 presos, dos que 206 (36%) atribuem-se a causas “naturais”, como se fosse natural morrer em prisom. – Nos dez primeiros meses de 2005 já morrérom 171 presos, isto é, um cada dous dias. – Depois do suicídio, a segunda causa de morte é a Sida, com 24 no que vai de ano. A legislaçom obriga a excarcerar os presos com doenças incuráveis e terminais, mas esses 24 morrérom entre-muros. Nestas cifras nom computam os presos mortos num hospital, nem muitos camuflados com causas estrambóticas para maquilhar as cifras, nem os inumeráveis intentos, mais ou menos sérios, de tirar-se a vida ou chamar a atençom dumha situaçom crítica. Conta-me Eduardo duns pais dum comum chamados polo director da cadeia para que fossem buscar o filho, libertado pola grave doença que padecia. Tam grave e tam terminal que morreu no carro, antes de poder chegar à morada. Nom computa como “morto sob custódia” da organizaçom de Mercedes Gallizo*. Os bascos também podem contar histórias destas que ponhem os pélos de ponta. Agora faltaria-me averiguar a taxa de suicídios da populaçom global do Estado para poder restá-la da carcerária, e o resultado empregá-lo como “folha de cargos” contra Gallizo e os seus sequazes. Isso é que é um “serial killer” e nom Jack o Destripador! *Porque morreu fora do cárcere. 14 de Novembro de 2005, segunda-feira Hoje a Guarda Civil detivo dez companheiros independentistas, dous que me vinhérom ver há uns dias, um do meu concelho, quase todos conhecidos, os dez irmaos. E eu nom podo fazer nada, nom podo sair à rua e “queimar o céu”, como dizia o poeta, nom podo mais que mirar pola janela da cela e imaginar o que estará acontecendo nestes mesmos instantes. Agora mesmo deve haver dez salas com vinte picoletos interrogando os meus irmaos. Agora mesmo há dez patriotas que nom sabem onde dormirám amanhá, no quartel, na cama própria, numha cela de cadeia madrilena. Agora mesmo há alguns detidos guardando silêncio, negando a palavra nem para pedir a hora. Outras sabem como sair do brete com histórias, acaso verídicas e inofensivas. E ainda há quem se nega a responder perguntas políticas mas aceita falar de outras cousas, sei lá, do bipartido ou da reforma do Estatuto. Agora mesmo há umha jovenzinha considerando a bifurcaçom que se abre ante ela, e que a fai depender de arbitrariedades de más pessoas: seguir com a vida passada ou afrontar dez anos de prisom por pertencer a “banda armada” (e ela sem sabê-lo). Agora mesmo há um moço comendo um sande de mortadela e umha pera fria, deitado numha colchoneta de ginásio sujada por vómitos anónimos. Há também agora galeg@s preocupad@s e mobilizad@s para que as paredes protestem amanhá, e talvez mesmo arda algum contentor ou caixeiro. Agora mesmo há umha intelectual (muito boa) galega (muito má) comentando em família o irresponsáveis que som os dez sequestrados, mentres acende o DVD e se prepara para visionar Noveccento. Agora mesmo um nacionalista do BNG sente que uns extranhos apanhárom dez dos seus, e experimenta raiva, impotência, um pouco de ódio e um muito de solidariedade, e vai sair às manifestaçons. Agora mesmo um nacionalista do BNG calcula que a vinculaçom mediática entre patriotismo e violência perjudica o seu partido, mas pode que, se os espanhóis desarticulam de vez o independentismo, afinal seja melhor, umha ánsia a um lado, e nom sabe se sorrir ou frunzir o cenho. Agora mesmo há umha galega em Brieva (Ávila) que imagina todo isto e pensa “Agora mesmo há um galego em Navalcarnero”. Agora mesmo há um canalha com toga que descansa num sofá de coiro, paladeia um cognac e sopesa a possibilidade de enviá-los todos a prisom, escolher apenas uns poucos, ou deixá-los livres (“polo menos, por agora, depois já veremos”). Agora mesmo há galegos que sentem medo porque participam nos centros sociais que fôrom registados e criminalizados, e sentem dor polos companheiros e companheiras detidas, e duvidam se deixar todo a um lado e olvidar-se da língua e da naçom; e amanhá sentirám vergonha por essas consideraçons cativas, e irám às manifestaçons de Ceivar. Agora mesmo há quartéis inçados de bons galegos em Santiago, Lugo, Vigo e Ourense, quartéis com guerrilheiros da pós-guerra, com militantes antifascistas, com nacionalistas dos anos sessenta, com patriotas da UPG, do LAR, do EGPGC, com os rebeldes que a Guarda Civil tratou sempre de exterminar, e julgou tê-los exterminado até que chegárom outros, e nessas andamos: estes dez apanham dignamente esse relevo. Agora mesmo há inquietantes dúvidas e certezas inquebrantáveis, “o que vai ser de mim agora, e do movimento”, e também “Nom me dobrarám, nom nos dobrarám”. Há mesmo agora “o que perdemos e vai nacendo noutros (UNHA LAPA LENE, UNHA CANDELEXA!), e ese é o grande milagre desta Patria conservada en pequenos corazóns con lume lene que non morre”, que dizia Ferrín, quer dizer, há jovens acordando do sono espanhol e virando o seu rumo para incorporar-se à luita pola liberdade, porque olhárom o exemplo e percebêrom a sua dignidade: Hoje toca-nos a Giana e a mim durmir mal e sofrer na nossa carne o que lhe fam aos irmaos e irmás, o que nom sofremos quando nos detivérom a nós (porque estavamos ocupados com outros pensamentos); também eles nom ham de estar a passá-lo assim tam mal como nós, porque nom é para tanto. Foi necessário que apanhassem estes companheiros e companheiras para que Giana e eu experimentássemos a angústia e a preocupaçom dumha detençom. 16 de Novembro de 2005, terça-feira Polo menos acertei na parte boa das hipóteses: houvo galegos de todas as famílias comportando-se como é devido e saindo à rua a dar a cara polos detidos e as detidas. Parece que nom há queija, que cresce a indignaçom e que talvez mesmo dé para umha campanha anti-repressiva como é devido, para devolver o golpe. Alivia sabê-lo, porque quando um nacionalista deixa de sentir-se concernido pola detençom de outro nacionalista, perde essa condiçom e o País encanalha-se um pouco mais. Mas mentres se sinta parte e entenda estes acontecimentos com a lógica da comunidade nacionalista agredida por um Estado estrangeiro, mentres tanto podemos orgulhar-nos da nossa Pátria e seguir empurrando a carreta, como a Mae Coragem de Brecht. Alivia isso, a nobreza de muitos e muitas boas galegas, e alivia também a firmeza e a dignidade dos detidos; nem um flaqueio, nem um titubeio, nada. Assim dá gosto. Nom é de estranhar que o inimigo tenha tanta raiva contra eles, que até desencadeia um espectáculo como este da “desarticulaçom da AMI” sem mais indícios contra eles do que a sua resistência e um patriotismo a toda prova.