Pres@s independentistas Xiana Rodrigues e Ugio Caamanho escrevem carta aberta ao MLNG

Desde os seus respectivos destinos penitenciários em Brieva (Ávila) e Navalcarnero (Madrid), o preso e a presa independentistas Ugio Caamanho remetem-nos a seguinte declaraçom conjunta em forma de carta aberta ao Movimento de Libertaçom Nacional Galego (MLNG). A carta aberta descrebe genericamente a situaçom actual de amb@s militantes, analisa a conjuntura desenvolvida a partir das detençons de 23 de Julho e, desde a afirmaçom de que “evitaremos muito qualquer género de tom categórico ou imperativo à hora de opinar sobre política concreta”, à vista da distáncia ao País, a quotidianeidade militante e a “crueza com que se nos manifesta o inimigo”, o preso e a presa indepedentistas fixam a sua posiçom por volta dos reptos que tem à frente neste momento o independentismo galego. Reproduzimos na íntegra o comunicado enviado, nom sem antes incorporar o parágrafe final da “Carta aberta ao Movimento” em que @s militantes encarcerad@s afirmam que “Estamos cert@s de que o movimento manterá o seu rumo sem vacilaçons. Tedes demonstrado nos últimos anos, também nos meses desde a nossa queda, umha fortaleza de ánimo e de conviçons que causam asombro em mais de um e de umha, e confiamos que assim seguirá a ser no futuro. Dentro dos cárceres ou nas ruas, numhas frentes de trabalho ou noutras, a causa tem umha trincheira reservada para cada umha e cada um de nós. Nom falharemos. Vemo-nos na luita”. CARTA ABERTA AO MOVIMENTO Redigida pol@s patriotas galeg@s Ugio Caamanho e Xiana Rodrigues, preso e presa em Espanha. Companheiros e companheiras independentistas, compatriotas: Como sabedes, o Estado espanhol capturou-nos e mantém-nos em prisom a centenares de quilómetros da Galiza, à espera de julgar-nos num tribunal de excepçom. Queremos dizer-vos que estamos bem, a moral alta e a vontade de luita intacta para prosseguirmos, entre reixas, mas também no que podamos contribuir para o movimento na rua, o combate nacional pola liberdade. A prisom, que agora começamos conhecer e entender, como antes fizérom outros e outras, nom se parece em nada com o buraco isolado e anulador com que nos assustam. Nom porque nom pretenda se-lo, mas porque a nossa determinaçom de luita, resistência e dignidade, impedem que actue sobre nós sob pautas de comportamento basseadas na relaçom dominaçom-submissom que dos cárceres emanam. Por muito árduo que seja suportar a distáncia da Terra e a incomunicaçom com os amigos e amigas, já que também aqui há maneiras de intervir politicamente, com as suas dificuldades e as suas vantagens. Parece-nos que o medo à prisom resulta mais efectivo à hora de anular-nos ou moderar-nos do que a própria realidade carcerária; o que nom é raro, já que também o medo à polícia surte melhores efeitos do que os próprios polícias. Por isso, cumpre desmascarar o mito e aclarar que nom é mais trágico nem mais duro o papel que agora nos toca no cárcere do que a militáncia do dia-a-dia na rua, se autêntica. Estamos, com efeito, encerrad@s entre muros e barrotes e afastad@s d@s familiares, companheir@s e amig@s, mas seguimos vivendo ao mesmo tempo na Galiza porque seguimos com o coraçom, a cabeça e as maos dedicadas à nossa causa nacional e social. Estamos cientes de que a nossa queda significa um incremento da pressom mediática e policial sobre todas e todos vós, conhecemos as campanhas de calúnias e hostigamento que se desatárom nos últimos tempos, principalmente contra as organizaçons independentistas em que militamos. Sabemos, também, que reagistes bem, que suportastes o ambiente afogante e vos mantivestes firmes nos vossos postos. Orgulhamo-nos de vós por isso, por nom flaqueardes com tanto assédio que a bom seguro se estendeu polos círculos familiares, laborais e de amizades. Demonstramos que somos fortes avondo para encaixarmos golpes como este e maiores até, e sobrepormo-nos fortalecidas e fortalecidos, com mais vontade e mais ilusom, para continuarmos pelejando. Nos últimos anos o inimigo acostumou-nos a umha espécie de repressom branda, baseada na acossa económica e os labores de recolha de informaçom, nom empregando nunca a lei anti-terrorista, e a prisom só em contadas excepçons. Por isso, talvez inconscientemente alguns banissem das suas mentes a possibilidade destas opçons mais duras, ou as relegassem na sua imaginaçom a um futuro longínquo. Julgamos urgente emendarmos esse erro: o Estado age com todos os seus recursos de violência contra os oprimidos e oprimidas, e se numha etapa prioriza uns meios e nom outros deve-se a um puro cálculo político. Mas a prisom, a existência de presas e presos políticos, vai intimamente ligada à luita pola independência, cumpre levá-lo em conta e integrá-lo nos nossos esquemas políticos e também vitais. Nesse sentido é que afirmamos que o nosso sequestro nom se pode comparar com umha tragédia inesperada e fatal: para toda revolucionária ou revolucionário, passar uns anos em prisom nom é umha possibilidade remota mas um episódio previsto que faz parte da sua luita. Do mesmo jeito, para o conjunto do movimento os presos e presas nom ham-de supor umha quebra da sua linha política, mas um componente mais da engrenagem com que se enfrenta a Espanha. Esclarecemos isto porque perceber como notícia extraordinária o que nom é mais que um facto “normal” num processo como o nosso acabaria dando lugar a indigestons. Se, como todos e todas desejamos, o movimento avança, a luita contra o Estado se agudiza e, em suma, seguimos caminhando cara a libertaçom, entom com certeza mais companheiras e companheiros virám compartilhar connosco a hospitalidade de Instituiçons Penitenciárias. Por nós estamos convencido@s de que as cousas acontecerám desse modo, porque confiamos na tenacidade e determinaçom d@s revolucionári@s galeg@s. Fazemos também esta reflexom pensando nas experiências de nom muitos anos atrás, quando a nossa geraçom de militantes sofria os primeiros golpes e, ao reagir com estranheza, passava a centrar a maior parte do seu accionar político na questom repressiva, descuidando frentes de trabalho que agora reconhecemos vitais. Queremos chamar a atençom sobre esse perigo, e por isso advertimos que a prisom nom é algo excepcional e sim um actor mais da vulneraçom sistemática dos nossos direitos nacionais; portanto, cumpre manter e desenvolver a toda costa as linhas de trabalho actualmente activadas, bem como abrir mais umha específica sobre os presos e presas. A nossa distáncia do País e da quotidianeidade militante coloca-nos numha posiçom um bocado desinformada e acaso sesgada pola crueza com que se nos manifesta o inimigo, por isso evitaremos muito qualquer género de tom categórico ou imperativo à hora de opinar sobre política concreta. Mas nom temos tam longe a militáncia de rua como para advertir da suprema importáncia de levar a bom termo os mais inovadores desafios que nos temos proposto: os que vincam na articulaçom dumha comunidade nacional alicerçada nom unicamente na ideologia, mas principalmente nas estruturas organizativas que veiculam a vida social (lezer, ensino, informaçom, em geral o relacionamento entre @s galeg@s e com a Terra) sob valores patrióticos e anti-capitalistas. Nesse labor ingente de construçom dumha sociedade civil, talvez nós, como pres@s polític@s e ainda como militantes individuais, podemos jogar o nosso papel, quer seja simbólico, teórico, ou de iniciativas e ideias. Para o que vos faga falta, contade connosco. Também nom podemos evitar fazer mençom ao segundo ámbito preferente da acçom política do movimento. Se antes insistimos na preeminência da construçom nacional, agora temos que salientar a rebeldia e os valores subversivos que a devem acompanhar, a vontade inquebrantável de defender o País por todos os meios necessários e a consciência de que nom edificamos um gueto independentista e alternativo, mas um núcleo social antagónico a Espanha com vocaçom expansiva, enfrentado a ela pola sua própria substáncia, nunca integrável como mais umha excentricidade das que o sistema fomenta e tira partido. Um núcleo social caracterizado, aliás, polo seu rechaço absoluto da via estatutária e autonomista e pola sua negativa a reduzir a luita política à intervençom institucional profissionalizada e respeituosa das regras de jogo impostas desde 1978. Estatutismo e institucionalizaçom –com os enfeites futuros que hoje preparam os profissionais da política- som caminhos cegos que nós nom vamos transitar. Sabemos quais som os nossos vieiros e o desafio é acertarmos com as fórmulas organizativas e desenhos de enfrentamento com os que encarar os nossos reptos em pleno século XXI. A acumulaçom de forças virá fundamentada sobre a reivindicaçom do direito de autodeterminaçom, a concorrência e o irmanamento sincero nas luitas práticas e quotidianas e a interacçom criativa entre os diferentes métodos de luita. A nossa luita será real, situada nom apenas no reino das palavras e os símbolos, ou nom será, como real é a agressom do Estado contra a nossa Terra, a classe trabalhadora, os nossos montes, os nossos rios, a nossa costa, a nossa língua e cultura; como real é também a repressom dos polícias e as suas porras e calabouços. Para nom extraviarmo-nos nos labirintos verbais de tanto falso profeta, no rueiro sem saída da política oficial, cumpre manter activo o combate e a resistência dignos de tais nomes. Estamos cert@s de que o movimento manterá o seu rumo sem vacilaçons. Tedes demonstrado nos últimos anos, também nos meses desde a nossa queda, umha fortaleza de ánimo e de conviçons que causam asombro em mais de um e de umha, e confiamos que assim seguirá a ser no futuro. Dentro dos cárceres ou nas ruas, numhas frentes de trabalho ou noutras, a causa tem umha trincheira reservada para cada umha e cada um de nós. Nom falharemos. Vemo-nos na luita. Viva Galiza Ceive e Socialista!!! Antes mort@s que escrav@s!!! 26 de Setembro de 2005 Xiana Rodrigues Ugio Caamanho